quarta-feira, 12 de março de 2008

O Craque Imortal

O Craque Imortal

Ao escrever o hino do Grêmio em 1953, o então compositor Lupicínio Rodrigues jamais poderia imaginar que em sua grande composição houvesse um termo que seria eternizado por toda torcida tricolor.

O então imortal, Eurico Lara, o grande goleiro gremista dos anos 30, veio a se tornar realidade depois que o grandioso Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense incorporou a sua história feitos inacreditáveis, que só podem ser explicados no plano da imortalidade. Jamais alguma equipe teve tanta semelhança com sua dita mística quanto o Grêmio.

Ao mencionar Lara como o craque Imortal, o grande Lupicínio já tinha idéia do que este grande arqueiro havia feito pelas cores do Grêmio. Antes de se tornar imortal.

Nascido em1898 na cidade de Uruguaiana, fronteira com a Argentina, Eurico Lara começou a jogar futebol pelo time do exército de Uruguaiana. O que se escutava na época é “que havia um goleiro que quando jogava seu time não perdia”. Sempre atento a novos talentos do meio futebolístico, o Grêmio mandou um de seus dirigentes para observar o então grande goleiro. A primeira impressão que se o dirigente tricolor teve era a de que se tratava de um goleiro com a cara e o jeito do Grêmio.

Porém, Lara nunca tivera o sonho de ser jogador de futebol e recusou a proposta, alegando querer continuar servindo ao Exército em sua cidade natal. Com bons contatos dentro da corporação, alguns dirigentes do tricolor conseguiram a transferência do grande goleiro do quartel de Uruguaiana para o de Porto Alegre, e estando mais perto do Grêmio, Lara acabou aceitando a proposta do tricolor.

Sua chegada ao Grêmio se deu no ano de 1920, quando o Grêmio se consagrou campeão do campeonato da cidade de Porto Alegre.

Lara foi titular da equipe tricolor de 1920 a 1935, conquistando 5 campeonatos gaúchos e 11 campeonatos da cidade de Porto Alegre.A imortalidade de Lara não se deu apenas pelo fato de ser um grande goleiro, mas pelo seu amor ao vestir o manto sagrado tricolor.

Boatos contam que o grandalhão de Uruguaiana, em um dos milhares de jogos feitos pelo tricolor, quebrou um dos braços. Contudo, negou-se a sair, permanecendo em campo até o termino da partida, inclusive defendendo muitas bolas que teriam o destino da meta tricolor.

Era o ano de 1935, em disputa o campeonato da cidade de Porto Alegre, e a equipe tricolor vinha de uma reação incrível. Após um inicio conturbado, o Grêmio retomou o foco na competição; visando a ser campeão citadino daquele mesmo ano, precisava de duas vitórias consecutivas nos 2 últimos jogos, e mesmo assim ainda dependia de 2 fracassos do “outro clube de porto alegre” para que no embate decisivo da última rodada, no GRE-nal, o titulo fosse decidido.O empate bastava para o clube da beira do Guaíba e a certeza de que o título ficaria do lado vermelho de Porto Alegre era mais que certo. Todavia, do lado tricolor o Grêmio vinha com um grande reforço para esta partida histórica: Eurico Lara, que havia sido proibido por médicos de atuar novamente em um jogo de futebol. Lá estava ele em campo, ainda que debilitado devido à tuberculose. O Gre-nal farroupilha, como ficou conhecido por se ter passado na data comemorativa dos 100 anos da Revolução, foi marcado por um grande equilíbrio e pela grandiosa atuação de um goleiro, Eurico Lara.O “outro time de Porto Alegre”, mesmo tendo a vantagem do empate, partiu para cima e conseguiu um pênalti ainda no primeiro tempo. Assim, o jogo poderia ter sido decidido, se não fosse o emblemático Eurico Lara na meta tricolor. Lara, que já havia se destacado durante o primeiro tempo, defendeu a cobrança de seu irmão, que jogava no lado “vermelho”.

Final da primeira etapa da grande decisão do campeonato citadino de Porto Alegre, o placar mantinha-se zerado para ambos os lados, graças à atuação de gala do grandalhão de Uruguaiana que, além de defender a penalidade máxima, teve uma das mais brilhantes atuações de um goleiro, segundo fontes da época. Infelizmente Lara não agüentou continuar em campo naquela tarde de muita glória. Fortemente debilitado, substituído, foi encaminhado de ambulância ao Hospital Beneficência Portuguesa, de onde jamais saiu.

Dois meses após sua internação,no dia 22 de setembro de 1935, Eurico Lara o Craque Imortal, veio a falecer no dia 6 de novembro do mesmo 1935. O Grêmio perdia um herói, mas estava ganhando uma lenda.

Mesmo sem Lara de volta à etapa complementar do Gre-nal Farroupilha, o Tricolor mostrou-se imponente, buscando a vitória até o fim do jogo .Aos 38 minutos do segundo tempo, depois de tanto insistir, o Grêmio chegou ao seu gol, em uma jogada ensaiada. Foguinho, outro craque imortal, disse a seu companheiro que jogasse a bola em cima de Risada, zagueiro colorado. Dito e feito. Após a cobrança da falta, Risada sobe mais alto que todos e tira a bola da área colorada de cabeça, mas a bola sobra nos pés de Foguinho, que já esperava o rebote na entrada da área adversária, disparando um tento sem chances ao goleiro “vermelho”, que só tem o trabalho de buscar a bola dentro do gol. Grêmio 1 x 0 “outro time de porto alegre” . O campeonato já estava decidido naquele momento, o gol tricolor abalou o time da beira do Guaíba que, 2 minutos mais tarde, ainda levaria outro gol em um contra-ataque mortal o ponta-direita Laci, dando números finais ao jogo e ao campeonato.

Se dera a tamanha importância deste título ao Grêmio, que direção e jogadores prometeram comemorar durante 100 anos esta conquista épica, que ficou marcado como o Gre-nal Farroupilha, e como a ultima partida de Eurico Lara pelo Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense.

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