domingo, 28 de fevereiro de 2010

Sobre coexistir.


Sinto-me livre. Estou distante de meus males sorrateiros, de meu sentimentalismo exacerbado e, por vezes, mais que nojento.

Estou contente, não, talvez satisfeito seja a palavra ideal.

Meu peito não pulsa. Não deliro mais em algo inexistente e sombrio.

Fui agraciado com meu humor. Sou minha própria piada pronta, no sentido bom da frase, isso se ele realmente existe.

Meus olhos parecem denunciar cada gota do sarcasmo que destilo por minhas palavras. Meu riso irônico não agrada aos outros em sua maioria, mas cá entre nós, isso nunca me foi relevante.

Já posso rir, na verdade sempre pude. Faço minhas análises e dou meus próprios diagnósticos. Sou meu psicólogo, meu psiquiatra favorito e embriagado.

Tenho meus momentos de sensatez, mas não que eles durem muito, nem eu acredito nessa minha frase.

Pego-me pensando, peco em meus pensamentos estranhos. Estou vazio, completamente vazio em meu existir. Gosto e adoro tal frieza de fatos, de sentimentos, ou da falta deles quem sabe.

Coexisto em minha maneira de ser, estar alheio a tudo que não me agrada.

Modéstia a parte, eu, sou meu melhor amigo na luta contra todo conto de fadas que um dia criei e hoje luto para destruir.


Um até breve, talvez confuso, deste que vos escreve.

Matheus.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Sobre Tony - 3


Sua idade não condizia com sua aparência. Não passava dos 31, mas seu rosto era marcado pela barba mal feita, pelas cicatrizes e marcas da vida. Seus olhos pareciam aflitos e em constante luta interna.

Tudo era complicado para Tony. Sua vida parara em certo ponto, por certa pessoa.

Já se passavam meses desde sua última visita, mas nada mudara, não para Tony.

Seu coração ainda se acelerava ao vê-la, ao sentir seu cheiro e tocar-lhe seu corpo, mesmo que em um abraço amigável.

Ele ainda a sentia presente, dentro de si e aquecendo seu coração de gelo.

Ela, do nome já esquecido, fora a única a fazê-lo derramar lágrimas, sejam de amor, ou da mais pura dor.

Sentado em seu sofá, Tony, ainda olha a velha aliança que guardara na antiga cômoda.

Ele não dormira, não hoje e talvez nunca. Passavam-se 7 anos, neste mesmo dia, e Tony jamais esqueceria do dia mais feliz de sua vida, seu casamento.

Toda noite, antes de dormir, ele pensa no que errou e em como poderia consertar tais erros.
Quem sabe um dia ele conseguirá mudar seu próprio destino.


Matheus.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Sobre Tony - 2


Já era noite quando ele chegara. Seu perfume cítrico espalhava-se pela ante-sala e anunciava sua entrada.

Seus passos cavalares pareciam fugir de algo, ao encontro do infinito talvez.

Andava cabisbaixo, sem perspectivas ou ideais neste vago momento.

Todos o olhavam, conheciam sua face, seus temores e anseios.

Sentara a sua mesa, sempre a mesma, reservada para ele. Com os olhos encharcados ele balbuciava palavras em um tom baixo, quase inaudível.

Seus punhos cerrados iam de encontro à madeira, estremeciam a mesa, quase como gritos de uma alma em chamas.

Sua respiração calma destoava de seu comportamento agressivo, por vezes grosseiro e desesperado.

Suas pernas balançavam em uma agitação fora do comum. Tragava seu charuto de uma forma rápida, inconstante e nunca desacompanhado de sua garrafa de whisky.

Seus gestos pareciam demonstrar algo, talvez à decepção, ou o desprezo que tanto o assombrava.

Seus gemidos foram silenciados pelo tempo, pelo passar do relógio, ou dos goles que o fizeram cair, em um sono profundo, na solidão corriqueira.


Matheus.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Sobre a minha revolta.


Meu ódio me possui de tal forma. Minha face emana luz, calor e raiva. Meus olhos se abrem, finalmente, depois de tanto tempo. Meu juízo parece ter voltado a ponderar sobre minhas ações, reações e pensamentos.

Não sou mais o mesmo, não hoje, não nestes últimos dias que se passaram.

Já não me importa o que acontecera, ou que virá e nada mais me é agradável, não desta forma, desta maneira.

Rio de minha mais estapafúrdia decisão, de meu mais completo fracasso e da sublime condição do ridículo que passei. Sou meu maior fã, meu único ídolo e jamais terei de passar por tamanho constrangimento, não assim, não comigo mesmo.

Meu orgulho volta a falar mais alto e consigo mostrar quem eu sou.

Cansei, sem falsa hipocrisia, da minha forma de ver tudo, do conto de fadas absurdo que um dia criei.

Tudo se dissipa em uma nuvem negra, solitária e bela, tal como a chuva que a acompanha.

Pingos gelados que esfriam meu coração de pedra, minha face incandescente e meus pensamentos infames.

Sou eu, talvez sempre fora, que vai controlar o que vivo e o que quero viver.

Sorrio, sim, isso é possível.


Matheus.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Sobre Tony - 1


Seu olhar destoava dos demais, era forte e por vezes arrogante. Mesmo sob a forte chuva que caia, seu jeito imponente denunciava seu modo de ser e de agir.

Cabelos longos e a barba mal feita, típica de um bom boêmio cheio de si.

Andava sob os ladrilhos com uma confiança exacerbada e de certa forma irritante para com os outros.

Seu caminhar desajeitado, por vezes descompassado mostrara sua verdadeira falta de compromissos.

Andava sozinho, seja pelas mesas de bares, ou pelas ruas da cidade. Seu copo de whisky parecia seu fiel e talvez único companheiro. Gozava da arrogância predominante em qualquer gênio. Era viciado em jogos, álcool e mulheres, mas nada que atrapalhasse sua brilhante mente, ou seus mirabolantes pensamentos.

Era um escritor da noite, não mais um menino que escrevia suas decepções. Suas lamurias agora eram desabafadas entre um copo e um tragar do charuto que tanto gostava.

A noite era sua terapia, sua grande paixão e aquela que por tantos e tantos dias o escutara.

Parado, ainda na chuva, ele observava, mesmo que encharcado, a vastidão de mais uma noite de verão.


Seu nome é Tony e ele apenas começou.